quinta-feira, 25 de novembro de 2010

“UMA EXTRAORDINÁRIA VARIEDADE DE TENDÊNCIAS INTERPRETATIVAS, DE ENDEREÇOS CRÍTICOS, DE MÉTODOS DE INVESTIGAÇÃO E DE EXPECTAIVAS PSICOLÓGICAS”, DIZ RICARDO DE MAMBRO SANTOS SOBRE O CICLO DE DEBATES COMO NASCE UMA OBRA-PRIMA

Foto: Lika Keunecke

O professor de história da arte da arte da Willamette University, EUA, Ricardo de Mambro Santos enviou um breve comentário sobre sua participação no ciclo de debates Como Nasce uma Obra-Prima, que acontece no Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo, até o próximo dia 8 de dezembro. Leia abaixo o texto na íntegra.

“A iniciativa Como nasce uma obra-prima, pensada e organizada por Claudio Nigro, levou ao Centro Cultural do Banco do Brasil de São Paulo um público surpreendentemente consistente de pessoas das mais diversas idades, profissões e perfis criativos para desenvolver, juntos, um encontro no qual diferentes aspectos do universo das artes – de sua produção à sua recepção – pudessem ser debatidos em forma dialógica, com fervor, mas também com sólidas bases teóricas e históricas. Com efeito, uma das novidades mais entusiasmantes deste encontro foi a pluralidade de categorias envolvidas: de docentes universitários a músicos, artistas plásticos, cineastas, escritores, pensadores, protagonistas de eventos culturais, além de muitas outras.

A organização dos encontros – impecável em todos os seus momentos – ficou por conta de uma excelente equipe de profissionais dirigida por Claudio Nigro com rédeas firmes, porém capazes de se adaptar aos mais diversos imprevistos, transformando cada momento em um território de mil possibilidades intelectuais. O percurso no qual foram divididos os vários temas a serem abordados foi o resultado de um inteligente projeto crítico, graças ao qual o conceito geral – e, por vezes, excessivamente dogmático e genérico – de obra-prima pôde ser examinado através de diferentes prismas hermenêuticos e analisado nos seus mais sutis desdobramentos históricos. A caracterizar o encontro foi, portanto, uma extraordinária variedade de tendências interpretativas, de endereços críticos, de métodos de investigação e de expectativas psicológicas que se predispuseram, todavia, a realizar uma troca promissora de idéias e hipóteses.

No caso do encontro ao qual participei em primeira pessoa – ligado ao tema de Arte, matéria e linguagem – o duetto crítico com Nigro foi, acredito, bem estruturado e desenvolvido com sobriedade, sobretudo por mérito de um percurso de imagens - problema capaz de abordar diferentes questões, sem perder de vista a profunda interligação que existia entre elas. Alguém poderia classificar o encontro como eurocêntrico. Mas acredito que tal definição seja, na realidade, o fruto de uma incompreensão de fundo, motivada, talvez, por uma urgência crítica que é sem a menor dúvida, justificada em outros casos: aquela de alargar os horizontes da análise crítica e histórica do mundo das artes a realidades culturais ainda pouco frequentadas por uma certa historiografia.

No caso do encontro Arte, matéria e linguagem entretanto, a escolha de obras (universalmente consideradas como primas, até mesmo por parte de uma público de massa) como a Mona Lisa de Leonardo da Vinci ou Les Demoiselles d’Avignon de Pablo Picasso, entre muitas outras, foi feita justamente com a intençao de poder verificar, do interior mesmo de uma certa visão historiográfica, os motivos pelos quais tais resultados estéticos acabam sendo tão difusamente considerados como exemplares. Além do mais, ja sabiamos que uma inteira semana do evento seria dedicada ao tema específico de arte global ou glocal, em relaçao também à questão da identidade coletiva de uma obra (no sentido de nacional, etnográfico, antropológico e assim por diante), pareceu-nos mais eficaz, do ponto de vista pedagógico, oferecer ao público imagens geralmente avaliadas como paradigmáticas – quase fossem realidades trans-históricas e pluri-geográficas – para poder, com minúcia de detalhes, examinar as características formais, as premissas teóricas e até mesmo os preconceitos hermenêuticos que as levam a ser vistas como obras-primas.

Ao final do encontro, a minha reação era já de saudade: quisera o tempo poder ser mais generoso e nos permitir de realizar, no futuro, muitos outros encontros como este! A capacidade de organização de Claudio Nigro, juntamente a sua exterminada curiosidade intelectual, a sua sensibilidade em lidar com questões fundamentais do mundo das artes, a sua deliciosa ironia e, enfim, a sua elegância inigualável como anfitrião, transformaram o evento Como nasce uma obra-prima em um momento realmente memorável de reflexão crítica e de prazeroso diálogo cultural." (Ricardo de Mambro Santos)

Um comentário:

  1. Como vai Claudio, legal o blog, legal o tema proposto.
    Abraços
    Marcelo Peres - Artista Plástico Visual

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