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Foto: Lika Keunecke |
O professor de história
da arte da arte da Willamette University, EUA, Ricardo de Mambro Santos enviou
um breve comentário sobre sua participação no ciclo de debates Como Nasce uma
Obra-Prima, que acontece no Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo, até o
próximo dia 8 de dezembro. Leia abaixo o texto na íntegra.
“A iniciativa Como nasce uma obra-prima, pensada e organizada por
Claudio Nigro, levou ao Centro Cultural do Banco do Brasil de São Paulo um público
surpreendentemente consistente de pessoas das mais diversas idades, profissões
e perfis criativos para desenvolver, juntos, um encontro no qual diferentes
aspectos do universo das artes – de sua produção à sua recepção – pudessem ser
debatidos em forma dialógica, com fervor, mas também com sólidas bases teóricas
e históricas. Com efeito, uma das novidades mais entusiasmantes deste encontro
foi a pluralidade de categorias envolvidas: de docentes universitários a músicos,
artistas plásticos, cineastas, escritores, pensadores, protagonistas de eventos
culturais, além de muitas outras.
A organização dos encontros – impecável em todos os seus momentos –
ficou por conta de uma excelente equipe de profissionais dirigida por Claudio
Nigro com rédeas firmes, porém capazes de se adaptar aos mais diversos
imprevistos, transformando cada momento em um território de mil possibilidades
intelectuais. O percurso no qual foram divididos os vários temas a serem
abordados foi o resultado de um inteligente projeto crítico, graças ao qual o
conceito geral – e, por vezes, excessivamente dogmático e genérico – de obra-prima
pôde ser examinado através de diferentes prismas hermenêuticos e analisado nos
seus mais sutis desdobramentos históricos. A caracterizar o encontro foi,
portanto, uma extraordinária variedade de tendências interpretativas, de
endereços críticos, de métodos de investigação e de expectativas psicológicas
que se predispuseram, todavia, a realizar uma troca promissora de idéias e hipóteses.
No caso do encontro ao qual participei em primeira pessoa – ligado ao
tema de Arte, matéria e linguagem – o duetto crítico com Nigro foi,
acredito, bem estruturado e desenvolvido com sobriedade, sobretudo por mérito
de um percurso de imagens - problema capaz de abordar diferentes questões, sem
perder de vista a profunda interligação que existia entre elas. Alguém poderia
classificar o encontro como eurocêntrico. Mas acredito que tal definição
seja, na realidade, o fruto de uma incompreensão de fundo, motivada, talvez,
por uma urgência crítica que é sem a menor dúvida, justificada em outros casos:
aquela de alargar os horizontes da análise crítica e histórica do mundo das
artes a realidades culturais ainda pouco frequentadas por uma certa
historiografia.
No caso do encontro Arte, matéria e linguagem entretanto, a escolha
de obras (universalmente consideradas como primas, até mesmo por parte de uma
público de massa) como a Mona Lisa de Leonardo da Vinci ou Les Demoiselles
d’Avignon de Pablo Picasso, entre muitas outras, foi feita justamente com a
intençao de poder verificar, do interior mesmo de uma certa visão historiográfica,
os motivos pelos quais tais resultados estéticos acabam sendo tão difusamente
considerados como exemplares. Além do mais, ja sabiamos que uma inteira
semana do evento seria dedicada ao tema específico de arte global ou glocal, em relaçao também à questão da identidade coletiva de uma obra (no
sentido de nacional, etnográfico, antropológico e assim por diante),
pareceu-nos mais eficaz, do ponto de vista pedagógico, oferecer ao público
imagens geralmente avaliadas como paradigmáticas – quase fossem realidades
trans-históricas e pluri-geográficas – para poder, com minúcia de detalhes,
examinar as características formais, as premissas teóricas e até mesmo os
preconceitos hermenêuticos que as levam a ser vistas como obras-primas.
Ao final do encontro, a minha reação era já de saudade: quisera o tempo
poder ser mais generoso e nos permitir de realizar, no futuro, muitos outros
encontros como este! A capacidade de organização de Claudio Nigro, juntamente a
sua exterminada curiosidade intelectual, a sua sensibilidade em lidar com
questões fundamentais do mundo das artes, a sua deliciosa ironia e, enfim, a
sua elegância inigualável como anfitrião, transformaram o evento Como nasce
uma obra-prima em um momento realmente memorável de reflexão crítica e de
prazeroso diálogo cultural." (Ricardo de Mambro Santos)
Como vai Claudio, legal o blog, legal o tema proposto.
ResponderExcluirAbraços
Marcelo Peres - Artista Plástico Visual